É consenso entre os agricultores familiares de que “a terra que
tem minhoca é melhor para a produção de hortaliças e frutas”. Eles sabem dos
benefícios das minhocas no solo, como a maior aeração, maior capacidade de
retenção de água, além, é claro, da melhoria das qualidades químicas.
Muitos agricultores dão testemunho dos efeitos positivos do húmus
de minhoca sobre os mais diversos cultivos. O húmus, quando produzido em
condições minimamente controladas, aproveita os resíduos orgânicos existentes
nas propriedades, como estercos e restos vegetais, para suprir em muitos casos
a necessidade de adubo em uma horta de pequeno ou médio porte, especialmente
nas condições de produção de base ecológica.
No entanto, os agricultores familiares têm aproveitado pouco este
extraordinário recurso natural em suas propriedades devido principalmente ao
desconhecimento da técnica da minhocultura e suas particularidades, a crença da
necessidade da construção de estruturas caras e complexas para a criação, e,
até mesmo, a decepção com experiências anteriores mal sucedidas. Outro aspecto
capaz de inibir a decisão dos agricultores de montar um minhocário é a confusão
feita entre os requerimentos legais para a produção comercial de húmus de
minhoca, ou seja, para vender, e a produção para uso próprio. Para uso na
propriedade não é necessário retirar 100% das minhocas e casulos, nem peneirar
o húmus para obter uma granulometria padronizada, pois estas práticas são
exigidas somente àqueles que desejam comercializar húmus. A economia de mão-de-obra
realizada quando se queimam estas etapas é significativa e pode ser a diferença
para viabilizar na prática a sua utilização.
A Embrapa Clima Temperado tem desenvolvido algumas técnicas de
baixo custo e baixo requerimento de mão-de-obra para demonstrar a viabilidade
da produção de húmus na pequena propriedade familiar. Entre essas técnicas
estão o minhocário campeiro de bambu e o minhocário em túnel baixo.
No minhocário campeiro as paredes laterais são feitas de bambus,
entrelaçados para dar sustentação à estrutura, sem a necessidade de pregos,
arames ou cordas. Este minhocário pode ser montado ao ar livre, na sombra de
uma árvore e em um terreno com uma leve declividade para drenar o excesso de
água, sendo dispensável isolar o fundo com cimento ou tijolos, pois as minhocas
permanecem no minhocário enquanto houver alimento. Para reduzir os efeitos da
chuva, pode-se simplesmente colocar folhas de árvores sobre o minhocário ou
ainda uma tampa feita de bambu. Por estar exposto ao clima a as plantas próximas,
o húmus produzido não apresenta uma qualidade tão boa quanto o fosse produzido
em um local mais protegido, porém o custo irrisório justifica sua implantação
nos casos da falta de recursos ou para aqueles agricultores que, antes de
investir, desejam conhecer melhor a minhocultura.
O minhocário sob túnel baixo é uma melhoria do minhocário
campeiro, sendo facilmente apropriado por aqueles agricultores que hoje
cultivam espécies como morango e alface em estufas de mesmo nome. A construção
do túnel é feita da mesma forma que nos canteiros para hortaliças, com a
colocação dos arcos, das estacas de sustentação e dos esteios nas cabeceiras
para tencionar e amarrar o filme plástico. Sob essa estrutura é montada uma
caixa de madeira, na largura do túnel, e revestido o seu fundo com sombrite ou
filme plástico perfurado para facilitar o escoamento do excesso de água. O
húmus produzido nesse tipo de minhocário é de uma qualidade muito boa,
principalmente por não ser lavado pelas chuvas. Além disso, é móvel e pode ser
montado próximo à horta, facilitando a utilização do húmus e o monitoramento do
processo.
A
grande vantagem dessas tecnologias está no fato de poderem ser desenvolvidas
com materiais simples, com custo zero ou bastante reduzido e de serem adaptadas
às necessidades dos agricultores que desejam aproveitar os resíduos orgânicos
disponíveis na propriedade de uma forma mais racional. Reciclar resíduos,
reduzir a dependência externa dos adubos minerais e, ao mesmo tempo, reduzir os
custos da produção, são alicerces fundamentais para uma agricultura mais
saudável e comprometida com o ambiente em que vivemos.
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