Cultivo da Mandioca (Manihot esculenta Crantz) Cont.


MANEJO DA CULTURA

Adaptação da área: A adaptação da área consiste nas operações de desmatamento, eliminação da parte aérea da vegetação, encoivaramento, queima limpeza da área e destocamento que pode ser manual ou mecanizado. 
Conservação do solo: Não descuidar das práticas conservacionistas. Se o terreno apresentar uma determinada declividade, deve-se fazer o plantio em curvas de nível ou a construção de terraços. 
Preparo do solo: Correção - Deve ser feita se o pH for inferior a 5,0. Quando recomendada, a aplicação de calcário é feito com 45 a 60 dias antes da aplicação dos fertilizantes e plantio. Realizada entre as operações de aração e gradagem (Tabela 21). A quantidade de calcário a aplicar depende das características do solo. Podemos verificar na tabela 21 as quantidades a aplicar em função dos valores de cálcio, magnésio e alumínio revelados pela análise do solo.

No preparo do solo recomenda-se:
Aração: Pode-se usar o arado de discos ou de aiveca.
Gradagem: grade hidráulica ou de controle remoto (grade aradora) é recomendada em terrenos recém desbravados. No caso de área já incorporada ao plantio mecanizado recomenda-se o uso de grade hidráulica.
Roçagem: Recomendada para facilitar a incorporação da vegetação herbácea na operação de gradagem da área.
Solos: Os solos indicados são aqueles de topografia plana, com boa profundidade efetiva, sem camadas de impedimento físico ou químico ao desenvolvimento de raízes, com a textura variando de franco arenosa a argilo arenosa e com pH entre 5,0 a 6,0. São totalmente desaconselháveis solos sujeitos a encharcamento, devido a dificuldade de aeração que ocasiona podridão nas raízes, e também os excessivamente argilosos, pois impedem o desenvolvimento adequado das raízes tuberosas.
Calagem e adubação: Apesar de adaptada a solos de baixa fertilidade, a mandioca somente atinge seu potencial máximo de produção com adubação adequada. Pesquisas revelaram que, dentre os macronutrientes, o fósforo permite resposta mais acentuada em termos de produtividade. Quanto às adubações nitrogenadas e potássicas, tem ocorrido respostas com menor intensidade e frequência. O uso de solos com características físicas e químicas limitantes tem contribuído para o baixo rendimento. Os solos devem ser escolhidos, preparados, corrigidos e adubados conforme preferência/exigência da cultura. Há evidência que a mandioca tolera as condições de acidez do solo. 
Deve-se destacar a necessidade de análise da fertilidade do solo para o uso racional da prática de aplicação de fórmulas de adubação mineral. No caso de solos arenosos o uso de adubação orgânica é altamente recomendável por melhorar a capacidade de retenção de nutrientes (evita a lixiviação) bem como maior capacidade de retenção de água no solo. No Ceará recomenda-se as fórmulas de adubação de 40-90-30 para a maioria das regiões produtoras.
Seleção e preparo de material de plantio: O plantio da mandioca é realizado com manivas ou manivas-sementes, também denominadas manaíba ou toletes ou rebolos, que são partes das hastes ou ramas do terço médio da planta, com mais ou menos 20 cm de comprimento e com 5 a 7 gemas. Devido a multiplicação vegetativa a seleção das ramas e o preparo das manivas são pontos importantes para o sucesso da plantação. A seleção e preparo do material de plantio são determinantes para um ótimo desenvolvimento da cultura da mandioca, resultando em aumento de produção com pequenos custos. Nesta fase alguns aspectos de ordem fitossanitária e agronômica devem ser considerados. Dentro do aspecto fitossanitário vale ressaltar que o material de plantio deve estar sadio, ou seja, livre de pragas e doenças, considerando que a disseminação de patógenos é maior nas culturas propagadas vegetativamente do que nas espécies propagadas por meio de sementes sexuais. Sendo necessário, inspeção constante da área com o plantio de onde serão retiradas as ramas para avaliar sua sanidade. Devendo ser evitados mandiocais com alta ocorrência de bacteriose, broca da haste, ácaros, percevejo de renda, ou que sofreram granizos ou geadas.
Outros aspectos a serem observados são os agronômicos, que apesar de simples resultam em aumento de produção do mandiocal, e às vezes, sem acréscimo ao custo e produção:
a) Sanidade das hastes - É obvio que não se deve propagar material contaminado com pragas ou doenças. Uma rigorosa seleção quanto a esse aspecto deve ser feita, descartando-se materiais de propagação que não atendam a essas especificações.
b) Escolha da cultivar - De acordo com o objetivo da exploração, se para alimentação humana in natura, uso industrial ou forrageiro, e a que melhor se adapte às condições da região. É sempre indicado o plantio de uma só cultivar numa mesma área, evitando-se a mistura de cultivares. Necessitando-se usar mais de uma cultivar, o plantio deverá ser feito em quadras separadas.
c) Seleção de ramas - As ramas devem ser maduras, provenientes de plantas com 10 a 14 meses de idade, e do terço médio da planta, eliminando-se a parte herbácea superior, que possui poucas reservas, e a parte de baixo, muito lenhosa e com gemas geralmente inviáveis ou "cegas". É importante verificar o teor de umidade da rama, o que pode ser comprovado se ocorrer o fluxo de látex imediatamente após o corte.
d) Conservação de ramas - A falta de coincidência entre a colheita da mandioca e os novos plantios tem sido um dos problemas na preservação de cultivares, a nível de produtor, e muitas vezes resulta na perda de material de alto valor agronômico. Quando as ramas não vão ser utilizadas para novos plantios imediatamente após a colheita, elas devem ser conservadas por algum tempo para não reduzir ou perder a viabilidade. Recomenda-se que a conservação ocorra o mais próximo possível da área ser plantada, em local fresco, com umidade moderada, sombreado, portanto protegidas dos raios solares diretos e de ventos frios e quentes. O período de conservação deve ser o menor possível, podendo as ramas, serem dispostas vertical ou horizontalmente. Na posição vertical, as ramas são preparadas cortando-se as ramificações e a maniva-mãe, tendo a suas bases enterradas, cerca de 5 cm, em solo previamente afofado e molhado durante o período do armazenamento. Quando armazenadas na posição horizontal, as ramas devem conservar a cepa ou maniva-mãe e serem empilhadas e cobertas com capim seco ou outro material. O armazenamento também pode ser feito em silos tipo trincheira ou em leirões, em regiões onde ocorrem geadas, para proteger as manivas das baixas temperaturas. Vale ressaltar que deverá ser reservada uma área, com cerca de 20% do mandiocal, como campo de multiplicação de maniva-semente, para a instalação de novos plantios, exceto em áreas com riscos de geadas.
e) Seleção e preparo das manivas - As manivas-semente devem ter 20 cm de comprimento, com pelo menos 5 a 7 gemas, e diâmetro em torno de 2,5 cm, com a medula ocupando 50% ou menos. As manivas podem ser cortadas com auxílio de um facão ou utilizando uma serra circular em motores estacionários, ou mesmo as existentes em máquinas plantadeiras, de modo que o corte forme um ângulo reto, no qual a distribuição das raízes é mais uniforme do que no corte em bisel. No caso da utilização de facão, o corte é realizado segurando a rama com uma mão dando-lhe um golpe com o facão de um lado, gira a rama 180 graus, e dá outro golpe no outro lado da rama cortando a maniva; evitando, assim, apoiar a rama em qualquer superfície, para não esmagar as gemas das manivas. É extremamente importante o uso de manivas de boa qualidade, viáveis, para a para a obtenção de plantios uniformes. O corte das hastes deve ser feito a 10 cm da superfície do solo. Alguns autores recomendam o tratamento das sementes para a prevenção de problemas fitossanitários. As manivas devem ser imersas em solução contendo inseticida e fungicida por 2 a 5 minutos e a seguir secas na sombra.
f) Idade da planta - A maniva semente deve ser oriunda de plantas com 10 a 12 meses. Deve-se escolher manivas maduras com mais de 2cm de diâmetro. Utilizar apenas o terço médio das hastes. Estaca madura, com diâmetro da medula igual ou menor que 50% do diâmetro da haste, em corte transversal. Quando obtidas de plantas com dois ciclos (18 a 24 meses) podem apresentar problemas de pragas e doenças, além de serem muito lignificadas, fato que comprometerá a germinação e o estabelecimento de uma nova cultura saudável. Quando se utiliza maniva de plantas com 18 meses, selecionar as oriundas da primeira ramificação. No caso de não haver coincidência entre época de plantio e de colheita (caso do Ceará), há três possibilidades de obtenção de maniva semente:
  1. O armazenamento da maniva geralmente é feito à sombra com as manivas, de preferência na posição vertical com a extremidade basal para baixo, com proteção com palhas. Além de 30 dias de armazenamento já há perda do vigor das sementes.
  2. Manutenção de parte do mandiocal para colheita na época do plantio. Esta prática pode trazer problemas devido à presença de chuvas na época de plantio. A mandioca é geralmente colhida em tempo seco.
  3. Poda de mandiocais estabelecidos. Esta prática traz benefícios, pois além de proporcionar maniva de boa qualidade, não compromete a produção de raízes.
g) Quantidade de manivas - A quantidade de manivas para o plantio de um hectare é de 4 a 6 m³, sendo que um hectare da cultura, com 12 meses de ciclo, produz hastes para o plantio de 4 a 5 hectares. Um metro cúbico de hastes pesa aproximadamente 150 kg e pode fornecer cerca de 2.500 a 3.000 manivas com 20 cm de comprimento.
Época de plantio
Em todo o Brasil, o mais tradicional é plantar a mandioca no início da estação chuvosa, a qual coincide com o reinício ou o prosseguimento de um período quente. É que nessas condições, reúnem-se as duas condições essenciais de natureza climática - umidade e calor - para brotação e o enraizamento das estacas plantadas, ponto de partida para o estabelecimento da cultura. Sulcamento ou coveamento feito na profundidade de 5 a 10 cm. Podemos verificar na tabela 22 resultados de estudo onde se variou a profundidade de plantio. Os dados revelam que a profundidade ideal foi de 10 cm. A maniva pode ser disposta no solo em três posições, a saber: horizontal, vertical e inclinada. No primeiro caso ela é totalmente enterrada no solo na profundidade adequada (10 cm). Nos dois outros casos ela é enterrada até a metade ou dois terços de seu comprimento. Deve-se ter o cuidado de não plantar a maniva na posição invertida.
Ideotipo da mandioca
Características morfológicas e fisiológicas que a planta deve apresentar para maximizar o seu potencial produtivo. Vejamos alguns parâmetros:
Índice de área foliar (IAF) - A taxa de crescimento relativo (TCR) aumenta até um IAF de 4; A TCR atinge um máximo entre 3 e 3,5. É possível que ocorram diferenças entre cultivares com diferentes características de morfologia de copa e de folhas. Desenvolvimento do IAF. O IAF é um parâmetro importante para a análise do crescimento das culturas em geral. Por que? Ele expressa o tamanho da capacidade assimilatória da cultura. Não expressa a qualidade, entretanto o IAF depende de: Área foliar unitária; número de folhas por ápice; número de ápices por planta; longevidade da folha. Um IAF adequado ao longo do ciclo permite o bom aproveitamento da radiação solar pela cultura. É importante igualmente a distribuição de assimilados nos órgãos da planta. Daí a importância do índice de colheita. Em condições extremamente favoráveis ele pode atingir níveis de 70%. Ramificação na vigésima semana; Folhas com área unitária média de 500 cm²; IAF máximo de 3,5; Número médio de raízes por planta: 10. O autor sugere uma população de 20.000 plantas por ha.
Potencial de produtividade -  A produtividade da mandioca (raízes tuberosas frescas) no mundo varia entre 10 a 18 t ha¹. Qual seria o potencial produtivo da mandioca se fossem otimizados os fatores limitantes como práticas culturais adequadas (controle de plantas daninhas, qualidade da maniva, fertilidade do solo, população de plantas adequadas), cultivares melhoradas e controle de doenças e pragas? Considerando uma taxa de crescimento máxima em condições moderadas de radiação solar de 1,2 t/ha/semana (matéria seca). Essas taxas só acontecem durante um intervalo de tempo em que a área foliar atinge e mantém um tamanho ótimo. Após o quinto mês, nas condições do CIAT, ela começa a cair por causa do processo de abscisão em resposta às condições climáticas (escassez de água). Algumas cultivares conseguem manter sua área foliar elevada durante um maior período e, portanto, são mais produtivas. Há cultivares que alocam 70% da matéria seca nas raízes. Para estimar o potencial de produtividade da mandioca façamos algumas simulações: Suponhamos que a planta demore 6 semanas para formar sua área foliar ótima e que durante 46 semanas ela produza 1,2 t/ha/semana de matéria seca. Suponhamos uma perda de 0,2 t/ha/semana em função da abscisão foliar. Assim, teríamos 46 t/ha/ano. Considerando uma cultivar que aloque 70% da matéria seca nas raízes, teríamos 32 t/ha/ano de matéria seca ou 90 t/ha/ano de matéria fresca (30% de matéria seca). No estudo de Pacajus Ribeiro Filho (1976) obiveram uma TCR de 4,3 g.m-2 dia-1, o que corresponde a 301 kg ha-1, que multiplicando-se por 46 obtemos 13.846 t ha-1 ano-1 de matéria seca. Dividindo-se por 0,3 obtemos a produtividade de raízes em matéria fresca (46,15 t.ha-1 ano-1). Em nosso estudo em Paraipaba associando antecipação de plantio com irrigação obtivemos 63,4 t/ha, valor cerca de 70% do potencial apurado com a simulação feita.
Espaçamento e plantio: O espaçamento no cultivo da mandioca depende da fertilidade do solo, do porte da variedade, do objetivo da produção (raízes ou ramas), dos tratos culturais e do tipo de colheita (manual ou mecanizada). De maneira geral, recomenda-se os espaçamentos de 1,00 x 0,50 m e 1,00 x 0,60 m, em fileiras simples, e 2,00 x 0,60 x 0,60 m, em fileiras duplas. Em solos mais férteis deve-se aumentar a distância entre fileiras simples para 1,20 m. Em plantios destinados para a produção de ramas para ração animal recomenda-se um espaçamento mais estreito, com 0,80 m entre linhas e 0,50 m entre plantas. Quando a colheita for mecanizada, a distância entre as linhas deve ser de 1,20 m, para facilitar o movimento da máquina colhedeira.
Se o mandiocal for capinado com equipamento mecanizado, deve-se adotar espaçamento mais largo entre as linhas, para facilitar a circulação das máquinas; nesse caso, a distância entre fileiras duplas deve ser de 2,00 m, no caso do uso de tratores pequenos, ou de 3,00 m, para uso de tratores maiores. O espaçamento em fileiras duplas oferece as seguintes vantagens: a) aumenta a produtividade; b) facilita a mecanização; c) facilita a consorciação; d) reduz o consumo de manivas e de adubos; e) permite a rotação de culturas na mesma área, pela alternância das fileiras; f) reduz a pressão de cultivo sobre o solo; e g) facilita a inspeção fitossanitária e a aplicação de defensivos. Quanto ao plantio da mandioca, geralmente, é uma operação manual, sendo em solos não sujeitos a encharcamento pode ser feito em covas preparadas com enxada ou em sulcos construídos com enxada, sulcador a tração animal ou motomecanizados. Tanto as covas como os sulcos devem ter aproximadamente 10 cm de profundidade.
Quando em grandes áreas, para fins industriais, utilizam-se plantadeiras mecanizadas disponíveis no mercado que fazem de uma só vez as operações de sulcamento, adubação, corte das manivas, plantio e cobertura das manivas. Nesse caso, há plantadeiras com duas linhas de plantio, com capacidade para plantar até 5 ha/dia e mais recentemente surgiu as de quatro linhas, com o dobro da capacidade de plantio da anterior, porém, com necessidade de tratores com alta potência para sua operação. Nas regiões produtoras da região Centro Sul do Brasil, é significativo o uso dessas máquinas para a operação de plantio.
Em solos muito argilosos ou com problemas de drenagem, recomenda-se plantar em cova alta ou matumbo, que são pequenas elevações de terra, de forma cônica, construídas com enxada, ou em leirões ou camalhões, que são elevações contínuas de terra, que podem ser construídos com enxada ou arados ou taipadeiras. Quanto à posição de colocação das manivas-semente, estacas ou rebolos no plantio, a mais indicada é a horizontal, porque facilita a colheita das raízes, colocando-se as manivas no fundo das covas ou dos sulcos. Quando se usa a plantadeira mecanizada, as manivas também são colocadas na posição horizontal. As posições inclinadas e verticais são menos utilizadas porque as raízes aprofundam mais, dificultando a colheita, sendo, assim, utilizadas apenas para plantios em matumbos ou camalhões.
O espaçamento da mandioca depende grandemente do sistema de plantio utilizado. A mandioca pode ser plantada no sistema consorciado ou plantio solteiro. Predomina no Nordeste o plantio consorciado. Como o crescimento inicial da mandioca é muito lento em relação às outras culturas (milho, feijão) deve-se antecipar o seu plantio em uma a duas semanas.
Plantio solteiro - Recomenda-se o plantio em fileiras simples espaçadas de 1,00m por 0,6m (população de 16.600 plantas por ha).
Plantio consorciado - Pode ser feito em fileiras simples ou duplas onde as plantas são alternadas nas fileiras. Há resultados conflitantes com referência à resposta da cultura ao uso de fileiras duplas. Alguns resultados mostram vantagens expressivas quando a mandioca é plantada em fileiras duplas. No Ceará estudos desenvolvidos pela UFC não mostraram os mesmos resultados. Não houve diferenças entre os dois arranjos de plantio. Num caso e noutro a mandioca pode ser consorciada em fileiras alternadas com outras culturas. As mais usadas são o milho e o feijão de corda. O amendoim e o gergelim podem igualmente ser usados em esquemas de consórcio com a mandioca. O espaçamento mais recomendado para a mandioca em plantio em fileira dupla é 2,0m x 0,60m x 0,60m.  Topo
Fonte: Tecnologia da produção - São Paulo

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