Uso do NIM Indiano como bioprotetor natural


por Engº Agrº José Luiz M. Garcia*
Essa publicação destina-se a fornecer informações sobre a utilização do Óleo de Nim (Azadirachta indica) na Agricultura e Pecuária no controle de insetos, pragas e parasitas. Informações mais detalhadas poderão ser obtidas nas referências listadas ao final do trabalho.
Por que Bioprotetor Natural e não Inseticida Natural?
O sufixo “cida” significa aniquilador, matador, assassino. O Óleo de Nim não é um produto com o tradicional efeito inseticida aniquilador característico das substancias petro-químicas largamente utilizadas na agricultura vez que não mata os insetos instantaneamente. Essa aparente desvantagem é, na verdade, uma grande vantagem conforme será devidamente explicado posteriormente.
O Óleo de Nim não possui efeito nocauteador ( efeito “knock-down”) sobre os insetos e larvas. Também não funciona a longo prazo como os inseticidas biológicos tipo Bacillus turingensis (Dipel) dando margem a que os insetos continuem devastando a lavoura antes de morrerem.
O seu efeito é imediato, porém, de outra forma, ou seja, ele atua imediatamente repelindo e/ou fazendo com que os insetos e larvas parem de se alimentar via efeito anti-alimentar (efeito “anti-feeding”). Atua também via outros mecanismos a médio e longo prazo conforme será amplamente explicado adiante.
Isso torna o Óleo de Nim um excelente aliado do agricultor no controle efetivo de insetos e pragas e o coloca em posição de destaque como uma nova categoria de produtos ecologicamente corretos para a utilização na agricultura do próximo milênio.
O planeta Terra não tem mais condições de absorver os milhares e milhares de toneladas de produtos petro-químicos venenosíssimos usados atualmente na agricultura convencional que todos nós sabemos irão gerar uma série de problemas de saúde. O Óleo de Nim demonstrou ser totalmente isento de efeitos nocivos a todos os animais de sangue quente, peixes e a 6 espécies diferentes de minhocas e demais organismos de solo. Ou seja, o óleo de Nim é um novo conceito em termos de controle de insetos e pragas que tem auxiliado milhares e milhares de agricultores conscientes em diversos países.
Os inseticidas sintéticos originários da petro-química matam indiscriminadamente os insetos e larvas, poluem o ambiente, intoxicam operadores, seus familiares, e até mesmo os consumidores e, portanto, e por isso mesmo, tem sido repudiado a nível mundial. Não obstante serem extremamente tóxicos, esses produtos não conseguem de forma alguma controlar os insetos, pois são formulados utilizando-se de apenas uma única molécula a qual é invariavelmente protegida por uma patente que dá direito ao seu detentor de comercializá-la a preços muitas vezes exorbitantes amparados que estão por registro efetuados junto a órgãos oficiais do governo.
Isto é, o governo não só colabora como também oficializa e o que é pior monopoliza a venda desses produtos altamente tóxicos e, portanto é fator determinante da intoxicação generalizada da população. Ocorre que os insetos, dotados de um maravilhoso mecanismo de defesa, desenvolvem resistência a esses venenos em apenas 3 gerações em alguns casos.
Por isso é que em 1988 no E.P.A. ( Environment Protection Agency) já haviam cerca de 50.000 produtos químicos registrados para uso na agricultura porque a cada 3 gerações surgem novas variedades de insetos resistentes a essas moléculas isoladas e portanto novas moléculas tem que ser produzidas e patenteadas e colocadas no mercado.
Esse processo não tem fim. A cada ano surgem venenos mais e mais poderosos. Inseticidas e fungicidas que antes controlavam os problemas na ordem de 1 a 2 kg por hectare agora estão sendo fabricados para serem utilizados em doses de apenas 200 gramas por hectare. Esses tipos de moléculas são por assim dizer cerca de 10 vezes mais venenosas que as anteriormente utilizadas, porem as multinacionais as apresentam como mais “seguras” ao meio ambiente pelo simples fato de que se usa menos produto. Menos produto para um mesmo efeito significa maior toxicidade e não menor toxicidade. Isso é um escárnio e uma afronta a inteligência humana e cabe a você agricultor dar um grande e rotundo “Basta!” a toda essa situação. Isso agora é possível com a utilização do Óleo de Nim.
Vejam por exemplo um resumo dos efeitos nocivos dos inseticidas sintéticos:
1.    Poluição ambiental.
2.    Danos a saúde devido a níveis elevados ( ou mesmo baixos) de resíduos.
3.    Destruição indiscriminada de insetos sem nenhuma consideração sobre o seu papel no meio ambiente muitas vezes benéfico, como no caso dos inimigos naturais.
4.    Envenenamento de animais de sangue quente como pássaros, gado, criação em geral e pessoas que tenham contacto com os mesmos.
5.    Desenvolvimento de resistência em insetos.
Ressurgimento de certas pragas secundarias e/ou principais que estavam sendo anteriormente controlada por insetos que foram destruídos pelo agrotóxico. Com o seu desaparecimento houve menos concorrência e novas pragas, então, surgiram.
Qual o principal (ou principais) ingrediente ativo do Óleo de Nim?
O Óleo de Nim exibe o seu poder controlador de insetos devido a uma série de ingredientes com características pesticidas (7). O seu principal grupo de ingredientes ativos é uma mistura de 3 ou 4 compostos bastante assemelhados porém conta, também, com 20 outros ingredientes menores mas que são bastante ativos de uma maneira ou de outra. Os principais ingredientes pertencem a uma classe de produtos naturais conhecidos como triterpenos mais especificamente limonoides (7). Até o momento, pelo menos 9 limonoides extraídos do Nim demonstraram habilidade para inibir o crescimento e desenvolvimento dos insetos. Novos limonoides estão sendo descobertos, porém a azadirachtina, salanina, meliantriol, e a nimbina são os mais conhecidos (9).
A Azadirachtina foi um dos primeiros princípios ativos a serem isolados do Nim e já provou ser o principal ingrediente no combate aos insetos. Atribui-se a Azadarachtina cerca de 90% dos efeitos causados nos insetos e é, por isso mesmo, utilizada como padrão de qualidade quando da utilização de óleos de Nim de diversas procedências.
A AgroEcologic só utiliza óleos de Nim cuja concentração estejam acima de 1.700 ppm de Azadarachtina para a preparação de emulsionados.
A Azadarachtina não mata instantaneamente os insetos, porém os impede de continuarem se alimentando. Além disso, interfere no seu desenvolvimento e já demonstrou ser um dos mais potentes reguladores de crescimento de insetos pesquisados nos últimos 20 anos (9).
Essa substância repele ou reduz a ingestão de alimentos de várias espécies de insetos prejudiciais as lavouras bem como de alguns nematóides (9). Na verdade ela é tão potente que um simples traço da sua presença impede que alguns insetos cheguem até a tocar as plantas.
A Azadarachtina é estruturalmente similar ao hormônio chamado “ecdysona” que controla o processo de metamorfose das diversas fases da vida do inseto (larva, pupa e inseto adulto). Ela afeta o Corpus cardiacus, um órgão semelhante a glândula pituitária na espécie humana, que controla a secreção de hormônios. A metamorfose requer uma sincronia perfeita de vários hormônios e outras mudanças fisiológicas para ser bem sucedida e a Azadarachtina é um bloqueador de “ecdysona”. Ela bloqueia a produção e a liberação desse hormônio vital para os insetos. Os insetos então não fazem a “muda” ou mudança de uma fase para outra, interferindo no seu ciclo de vida.
O melantriol é outro inibidor alimentar que em concentrações extremamente baixas tem o efeito de paralisar a alimentação dos insetos. Esse seu efeito foi pela primeira vez demonstrada nos gafanhotos. A salanina foi o terceiro terpenoide a ser isolado do Nim.
Estudos indicaram que a salanina é também extremamente poderosa na sua ação anti-alimentar, porém não interfere na metamorfose. O gafanhoto migrador, besouro listrado do pepino, moscas domésticas e o besouro japonês foram bastante afetados tanto em testes de laboratório quanto em testes de campo. A Nimbina e Nimbidina tiveram o seu efeito anti-viral demonstrado. Elas afetaram o vírus X da batata, vírus da vaccinia e vírus fowl pox. Existe a possibilidade desses dois ingredientes serem usados no controle dessas viroses em lavouras e animais.
Certos ingredientes menores também possuem efeito anti-hormonal. A pesquisa também demonstrou que alguns desses ingredientes menores conseguem até paralisar o mecanismo de deglutição, desta forma impedindo os insetos de se alimentarem. Dentre esses limonoides secundários foram isolados o deacetylazadarachtinol que demonstrou ser eficaz contra a lagarta do broto do tabaco.
Qual o mecanismo de ação do Óleo de Nim nos insetos?
Até o momento já foram descritos na literatura científica os seguintes efeitos:
§  Repelente de larvas e adultos.
§  Inibindo ou impedindo o desenvolvimento de ovos, larvas ou pupas.
§  Bloqueio da “muda” de larvas ou ninfas.
§  Impedindo a comunicação sexual e o acasalamento.
§  Impedindo que fêmeas depositem os ovos.
§  Esterilizando insetos adultos.
§  Envenenando larvas e insetos adultos.
§  Inibindo a alimentação.
§  Bloqueio da habilidade de deglutir, isto é redução da motilidade intestinal.
§  Perturbação da metamorfose nas várias etapas.
§  Inibindo a formação de quitina
Qual o mecanismo de ação da Azarachtina?
Os vários estudos demonstraram que o mecanismo de ação da Azadarachtina pode ser conforme abaixo relacionados ( 9 ) :
1. Efeito Anti-alimentar via oral.
a) Principal: Inibe a atividade dos receptores de sensibilidade gustativa da cavidade oral, modifica a ingestão normal de alimentos e a capacidade alimentar prospectiva dos Insetos.
b) A ingestão de princípios ativos junto com o alimento conduz a inanição e morte.
2. Ação Dermal. Penetra através da cutícula dos insetos e inibe a síntese de quitina, provocando, então desidratação e morte.
3. Efeito Repelente. Devido a mudanças no comportamento locomotor e estacionário dos insetos, em alguns casos o acasalamento, assim como a comunicação sexual é afetada.
4. Efeito Destruidor do Crescimento. Pela inibição do crescimento normal do inseto por meio da interferência nos ciclos de mudança. Suprime a atividade da ecdysona e a larva não efetua a mudança de fase, mas fica na fase jovem para sempre até que eventualmente morre.
5. Efeito na sobrevivência e reprodução pela ação inibidora da ovoposição. Quando a fêmea atinge o período de postura do seu ciclo de vida, a ovoposição é suprimida ou inibida.
6. Efeito no Sistema Endócrino. Os extratos de Nim são acumulados no sistema neurosecretório do inseto, e por cruzarem a barreira cerebral, são concentrados no corpus cardiacus , resultando em uma menor utilização das proteínas neuro-secretórias.
Há quanto tempo já se utiliza o Óleo de Nim na agricultura?
Embora a utilização do Nim na medicina Ayurveda esteja mencionada em escritos sanscritos de milhares de anos de idade a sua utilização na agricultura é de certa forma recente. A habilidade do Nim em repelir insetos foi pela primeira vez descrita na literatura cientifica em 1928 e 1929. Dois cientistas Indianos, Dr. R.N. Chopra e Dr.M.A. Husain usaram uma solução aquosa contendo 0,001% de frutos secos moídos para repelir gafanhotos do deserto (9).
Porém a sua real importância somente foi demonstrada em 1962. Naquele ano, em testes de campo efetuados em Nova Delhi, S. Pradhan pulverizou diversas espécies de plantas com uma solução de frutos de Nim . Ele observou que embora os gafanhotos pousassem sobre as plantas tratadas eles se recusavam a comê-las e que esse efeito durava até 3 semanas após o tratamento. Alem do mais ele observou que o extrato do fruto de Nim era ainda mais eficiente do que os inseticidas químicos convencionais utilizados naquela ocasião e que o seu efeito repelente era tão forte quanto o seu efeito pesticida. Nos campos tratados com inseticidas químicos adjacentes os insetos morreram mas não sem antes terem devorado as plantas. Os efeitos reguladores do crescimento foram independentemente observados na Inglaterra e no Kenia em 1972. Na Inglaterra, L.N.E. Ruscoe, na época um funcionário da I.C.I. , testou Azadarachtina em insetos prejudiciais a lavouras como Borboleta branca do repolho ( Pieris brassicae) e besouro manchador do algodão ( Dysdercus fasciatus) e notou efeitos de regulação de crescimento em todos os casos. Naquele mesmo ano, no Kenia, um estudante de pós graduação alemão , K. Leuschner trabalhando na Estação Experimental de Café ( Coffee Research Station) de Upper Kiamu observou que um extrato metanolico da folha do Nim controlava o bezouro do café (Antestiopsis orbitalis bechuana) por meio de efeito regulador de crescimento. A maioria das ninfas tratadas no estágio quinto instar morriam nas mudas subsequentes e as poucas que sobreviveram tiveram mal formação de tórax e asa na fase adulta. 
Os efeitos de redução da fecundidade dos insetos foram demonstrados por R. Steets, outro estudante de pós graduação, e H. Schmutterer na Alemanha. Eles observaram e eficiência do Nim em bezouro mexicano do feijão ( Epilachta varivestis) e bezouro da batata Colorado (Leptinotarsa decemlineata) cuja ovoposição foi reduzida quase que a zero. Algumas fêmeas foram quase que esterelizadas e esse efeito era irreversível (9).
Em que parte da árvore do Nim concentra-se a maioria dos ingredientes ativos?
Os ingredientes ativos da árvore do Nim encontram-se presentes em quase toda a planta. Entretanto, é no fruto que eles se encontram em maior concentração e notadamente no óleo que é extraído desses frutos.
Quais os principais insetos ou classes de insetos controlados pelo Óleo de Nim?
Em 1990, pesquisadores relataram que os extratos de Nim afetavam quase 200 espécies de insetos (7). Outros autores relatam até 400 espécies de insetos (9) nas últimas duas décadas como sendo afetados pêlos ingredientes ativos do Nim.
Classe Orthoptera: Compreendem gafanhotos, grilos, esperanças, etc…. Nessa classe de insetos o efeito anti-alimentar é bem marcante. Várias espécies se recusam a comer plantas tratadas com nim por vários dias e algumas vezes até varias semanas.
Classe Homoptera: Afídeos (pulgões), moscas brancas, psyllids, cochonilhas, e outros insetos dessa classe são sensíveis ao nim em diversos graus de eficiência. É interessante ressaltar que os ingredientes ativos do Nim podem influenciar a habilidade dos homopteros de serem portadores e de transmitirem certas viroses. Esse efeito já foi observado em arroz com o virus “tungro” transmitido por homopteros.
Classe Thysanoptera: O Nim tem demonstrado ser muito eficiente em larvas de trips que ocorrem no solo. Entretanto, uma vez que os insetos adultos tenham se estabelecido nas plantas eles passam a serem menos suscetíveis aos extratos de Nim. As formulações oleosas mostraram-se mais eficientes em alguns ensaios talvez devido ao fato de que o óleo cobre e sufoca esse tipo de insetos.
Classe Coleóptera: As larvas de todos os tipos de besouros, especialmente os fitófagos coccinelideos, e crisomelideos, são bastante afetados pelo óleo de Nim. Eles se recusam a comer plantas tratadas, crescem devagar, e alguns são mortos ao contato com os princípios ativos.
Classe Lepdoptera: Resultados de inúmeros ensaios de campo, notadamente com traças, demonstraram que as larvas de diversos lepidópteros são altamente suscetíveis ao Nim. Tudo indica que pragas como lagartas militares, brocas de fruto, broca do milho, e pragas afins serão os principais alvos do óleo e dos extratos de Nim no futuro. O Nim os impede de se alimentarem porém esse efeito é menos marcante do que os danos ao crescimento e desenvolvimento que ele causa. Até o momento todos os resultados de campo, em São Paulo, com o nosso produto tem sido bastante animadores. Todos os produtores relatam uma diminuição sensível no ataque de lagartas e traças.
Classe Diptera: Varias espécies de dipteros como mosca de frutas, mosca dos chifres, e moscas domesticas são também um bom alvo para Óleo de Nim. Em São Paulo, já temos resultados de campo que comprovam a eficiência do nosso emulsionado de óleo de nim em moscas de frutas em maracujá. Foi observado, que a mosca dos chifres não se desenvolve em esterco tratado com pulverizações de Óleo de Nim.
Classe Himenoptera – Efeitos anti-alimentar e desregulando a crescimento. Suscetível.
Classe Heteroptera – Insetos sugadores que atacam diversas lavouras como café, arroz, hortaliças. São afetados. As propriedades sistêmicas do Nim afetam o seu habito alimentar e desregulam o seu crescimento e desenvolvimento.
Insetos Domésticos – Baratas são bastante afetadas pelo Óleo de Nim. Ele mata os insetos jovens e inibe os adultos de efetuarem a ovoposição. Larvas impregnadas com óleo de Nim funcionaram em diversas espécies de barata incluindo a B. germânica.
Pragas e Insetos de Produtos Armazenados – O Nim tem demonstrado um potencial excelente para a utilização em produtos armazenados.
Aliás, esse é uma das suas utilizações mais antigas na Ásia e a literatura está repleta de ensaios bem sucedidos. Houve controle de 3 a 6 meses em produtos armazenados tanto com o óleo quanto com o pó da folha. Espécies de Sitophilus e Tribolium são controladas com sucesso por preparações contendo ingredientes ativos da planta do Nim.
Há quanto tempo se utiliza o Óleo de Nim no Brasil?
No Brasil o fomento ao Nim começou com a ajuda prestada pela GTZ, empresa estatal alemã, destinada a promover a redução de produtos tóxicos na agricultura, que injetou recursos na CATI criando o projeto “ Solo Vivo”. Nessa época o Eng. Agr. Helcio de Abreu Jr., o grande e incansável divulgador dessa arvore no Brasil, teve o seu primeiro contato com o Nim, embora essa planta já tivesse sido introduzida pelo I.A.C. ( Instituto Agronômico de Campinas) há 28 anos atrás pela seção de Plantas Medicinais que ainda possui a arvore de Nim mais antiga do Brasil nos fundos da referida seção. Posteriormente, e de forma tímida, foram feitas algumas importações do óleo de Nim da América Central porem o preço era exorbitante e dificultava o acesso dos produtores a esse importante insumo ecológico.
Será que os insetos irão desenvolver resistência ao Óleo de Nim?
Todos os autores consultados são da opinião que será extremamente difícil aos insetos desenvolverem resistência aos ingredientes ativos do Óleo de Nim devido ao fato de serem inúmeros ( cerca de 40 ingredientes ativos) e da forma como os mesmos atuam. Alguns dos ingredientes ativos são bloqueadores da ecdysona que é um hormônio natural. Fica extremamente difícil aos insetos desenvolverem qualquer tipo de resistência quando inúmeros mecanismos são afetados ao mesmo tempo. Em ensaios conduzidos com o fim específico de desenvolver resistência nos insetos demonstrou-se ser essa possibilidade muito remota. Traças do repolho após 35 gerações consecutivas expostas ao Nim continuaram a exibir a mesma suscetibilidade aos princípios ativos. O que pensam as organizações mundiais como a F.A.O. sobre o Óleo de Nim?
Diversas organizações internacionais como a GTZ da Alemanha têm promovido a pesquisa cultura e difusão do Nim como uma forma de reduzir a utilização de inseticidas sintéticos na agricultura principalmente nos países do terceiro mundo, já que no primeiro mundo eles contam com mecanismos eficientes que coíbem a utilização desses produtos venenosos. Um exemplo disso é o Baysiston , da Bayer, que está proibido na Alemanha, sede daquela empresa, mas que continua sendo vendido no Brasil matando agricultores em todo o pais todos os anos. O Conselho Nacional de Pesquisas (National Research Council) de Washington, USA, chamou o Nim de “a arvore para resolver os problemas globais”. A FAO (Food and Agriculture Organization) chamou o Nim de “ uma das maiores dádivas para a humanidade”. Recentemente, a Inglaterra rejeitou um pedido de uma empresa americana que pretendia “patentear” a planta do Nim para poder auferir lucros exclusivos sobre essa fonte inesgotável de recursos e verdadeira dádiva a humanidade.
O Óleo de Nim é tóxico ao homem e a vida silvestre?
Até o momento não foram encontrados nenhum efeito tóxico a animais de sangue quente incluindo pássaros, a peixes, a minhocas e demais organismos de solo. Em 1985 o E.P.A. (Environment Protection Agency) aprovou o produto comercial Margosan-A para controle de trips, moscas brancas, minadores de folha, lagartas em geral, pulgas, traças, broca de chifre, baratas, lagartas militares em estufas, viveiros, florestas e residências com base em estudo de toxicidade realizado com essa finalidade. Esse produto é um extrato dos frutos do Nim. Os dados sobre toxicidade são inúmeros. Par ilustrar podemos citar que em testes com abelhas o Nim demonstrou não afetar nem esses insetos benéficos quando em aplicações diretas. 
As doses letais LD 50 em diversos animais sempre ficavam acima das maiores dosagens aplicadas e, portanto nunca eram determinadas pois os animais não morriam. Os extratos também demonstraram não ser mutagenicos em testes de mutagenecidade. 
O Óleo de Nim destrói os Inimigos Naturais?
Insetos que se alimentam de pólen como borboletas adultas e abelhas recebem uma dosagem diminuta de Nim que parece não os afetar. Além do mais, em teste voluntário para registro do produto Margosan-A, ficou demonstrado que nem aplicações diretas contra as abelhas causaram nenhum problema para esses insetos. Estudos com minhocas demonstraram que o Nim pode até ter efeitos positivos sobre esses animais de solo. A taxa de crescimento das minhocas foi maior quando se usou folhas de nim ou torta da semente de nim misturados ao solo. No Hawaii, os cientistas descobriram um exemplo maravilhoso da sutileza dos efeitos do óleo de nim. As moscas de fruta, que anualmente causam grandes prejuízos aos agricultores, foram testadas para se determinar a sua suscetibilidade aos ingredientes ativos do Nim. Enquanto, as frutas amadureciam nas árvores, os insetos jovens no interior dos casulos desenvolviam-se no solo. Pulverizando-se o solo com uma solução de Óleo de Nim o desenvolvimento das larvas era totalmente paralisado. Porem, um parasita natural da mosca de frutas, certo tipo de ichneumon que parasita os casulos e é utilizado no controle biológico, não era afetado provando ser resistente ao nim. Os predadores que são utilizados como controle biológico , ao que tudo indica, são resistentes ao Nim (6). Com o somatório de informações que dispomos até o momento permite-nos afirmar que o Óleo de Nim não representa um perigo iminente aos inimigos naturais e aos insetos benéficos demonstrando, mais uma vez, o extraordinário potencial dessa planta para toda a humanidade.
Qual a melhor dosagem do Óleo de Nim? 
O Nim é extremamente ativo como regulador hormonal mesmo a concentrações baixíssimasEm alguns estudos, concentrações menores que um décimo de ppm (parte por milhão) nas soluções foi suficiente para proteger eficientemente as plantas tratadas (9). Essa concentração é equivalente a 0,00001 por cento ou aproximadamente uma colher de chá de nim para 4.000 litros de água. Alguns insetos começam e se desinteressar por algumas plantas mesmo a essas concentrações baixíssimas. Nesse particular o produtor deve testar o Nim e descobrir por si mesmo a dosagem mais econômica. São centenas de culturas e milhares de insetos nas mais diversas condições de cultivo. Isso propicia milhões de diferentes situações e a pesquisa jamais irá responder a sua questão especifica a menos que a sua lavoura tenha uma importância econômica muito grande e a menos que o governo decida que já chega de intoxicar a população e comece a pesquisar formas menos tóxicas de controle de insetos. Na prática recomendam-se concentrações de Óleo emulsionado que variam de 0,5 até 1%. Entretanto, fica o lembrete de que o Óleo de Nim emulsionado poderá apresentar resultados em concentrações bem inferiores.
O Óleo de Nim tem efeito por contato ou é um produto sistêmico?
As duas coisas. Os ingredientes ativos ficam depositados na superfície das plantas, mas também são absorvidos pelas plantas. O fato dos extratos de plantas poderem ser absorvidos e consequentemente conferirem uma defesa de dentro para fora é talvez uma das características do Nim mais interessantes. O nível da atividade sistêmica difere de planta para planta e de uma formulação para outra. Extratos que não contenham óleo, com pouco óleo e com muito óleo exibem diferentes níveis de ação sistêmica.
Quais as formas de aplicação do Óleo de Nim?
O Óleo de Nim é geralmente apresentado sob a forma de emulsão embora a Agro Ecologic esteja desenvolvendo uma nova formulação com alta concentração de Azadarachtina e que irá conter apenas óleo de nim e não mais o emulsionante. Essa formulação estará disponível a partir de Setembro de 2000. O Óleo emulsionado é geralmente pulverizado sobre as plantas com pulverizadores costais, ou motorizados. Pode-se usar também atomizadores e recentemente foram feitos testes com maquinas geradorasde fumaça ou “fog” na qual o produto é usado na forma pura sem diluição. No caso de moscas é comum a preparação de iscas atrativas com açúcar. É igualmente relatada a aplicação via injeções em troncos de arvores (6) para controle de lagartas minadoras de folha. Também utiliza-se a pulverização do solo ao redor de arvores e plantas para controle de traças que completam o seu ciclo no solo no interior de casulos. 
Deve-se usar espalhante adesivo junto com o Óleo Emulsionado de Nim?
Não há necessidade alguma de se usar espalhante adesivo com a emulsão de Óleo de Nim pois os emulsionantes possuem características químicas semelhantes aos espalhantes adesivos exercendo o mesmo papel que estes na superfície das folhas.
De quanto em quanto tempo se aplica o Óleo de Nim?
Aqui também estamos diante de uma situação que irá requerer a participação ativa do produtor. A pesquisa ainda não respondeu a essa pergunta. Algumas experiências demonstraram que o efeito anti-alimentar persiste por até três semanas após a aplicação. Alguns produtores aplicam pulverizações semanais e acham que essa frequência é a ideal. Cada caso irá requerer um estudo individualizado. A regra geral é quanto menos aplicações melhor. Também existem diferenças básicas entre cultivos protegidos em estufas e à campo, de formas que não é possível ter-se uma recomendação geral para todas as culturas e em todas as situações de cultivo. 
O Óleo de Nim é compatível com outros produtos?
O Óleo emulsionado de Nim para fins agrícolas é compatível com a maioria dos insumos aplicados na Agricultura Orgânica. Entre os produtos compatíveis podemos citar o Biofertilizante, o acido pirolenhoso, alguns fertilizantes foliares à base de Cálcio e Boro como o CaB2. Entretanto, não recomendamos a sua aplicação nem com a Calda Bordaleza e nem com a Calda Sulfocalcica devido a sua reação alcalina. Entretanto, esta recomendação não está amparada em pesquisas cientificas sendo necessário e urgente pesquisar-se esse aspecto para posterior analise. A combinação do óleo de Nim com inseticidas biológicos à base de Bacillus thuringensis (Dipel) tornam o controle ainda mais eficiente.
Como escolher qual o produto a ser comprado já que não existe produto registrado no mercado?
Embora já existam produtos a base de Nim registrados em outros países, o que prova a eficiência desse produto, no Brasil o processo é bastante demorado e caro. Estima-se que o custo de registro de um produto no Ministério da Agricultura esteja entre US$ 75.000,00 a US$ 250.000,00. Além do mais é amplamente conhecido o fato de que apenas umas poucas firmas multinacionais têm acesso a esses registros. Diversas firmas brasileiras do ramo de Agrotóxicos têm movido repetidos processos judiciais contra o Ministério da Agricultura por se sentirem prejudicadas com esse sistema injusto. Alem do mais os custos de registro terão que ser fatalmente repassados ao consumidor final. E pergunta-se: Para quê? Para provar o que todo o mundo já sabe? Que o Óleo de Nim é um eficiente protetor natural contra os insetos? Para corroborar mais de duas décadas de pesquisas científicas? Para corroborar o que milhares de usuários satisfeitos em todo o mundo estão dizendo sobre o Óleo de Nim? Para redescobrir a pólvora? A maioria dos produtores que se preocupam com o meio ambiente é reconhecidamente inteligentes ao ponto de reconhecerem que esse sistema institucionalizado de registros de produtos para a lavoura é mais um escândalo nacional e falar-se em registro para produtos naturais é mais outra grande hipocrisia, sem mencionar-mos o aspecto estritamente ditatorial que esses registros impõe ao seu direito de optar. Ou seja, não se pode usar o que se bem deseja, mas sim o que eles querem que você use ou permitem (por meio de registros). Isso tem um só nome: Ditadura! Infelizmente, não podemos concordar com esse tipo de procedimento. Multinacionais ávidas por lucro irão tentar monopolizar mais essa fonte natural para o controle de insetos tentando nos escravizar mais e mais (6). Porem cabe a todos nós repudiar mais essa tentativa. Entretanto, o consumidor consciente tem que saber como proceder, pois haverá muito em breve os aproveitadores que tentarão tirar proveito da boa reputação do óleo de Nim e tentarão vender produtos de inferior qualidade e com baixo teor de Azadarachtina. Por isso adquira sempre esse produto de pessoas que já tenham uma reputação comprovada no meio da agricultura orgânica. No final desse trabalho existe uma lista de revendedores nos quais o Óleo de Nim poderá ser adquirido. 
O Óleo de Nim é um produto permitido pelas organizações certificadoras de Agricultura Orgânica no Brasil? 
Sim, o Óleo de Nim é autorizado por todas as certificadoras orgânicas a nível mundial sem nenhuma exceção. 
Que cuidados devemos ter para a melhor utilização do Óleo de Nim? 
Os princípios ativos do Óleo de Nim são sensíveis a luz e ao calor. Portanto, mantenha as embalagens e locais frescos e ao abrigo da luz. Durante o inverno, em locais frios, o Óleo de Nim se solidifica e por isso temos que nos certificar que a emulsão esteja dissolvida antes de formular a pulverização. A Azadarachtina tende a se concentrar no fundo do frasco e pro isso deve-se sempre agitar o frasco de emulsão muito bem agitado antes de utilizá-lo. A pulverização deve cobrir bem a folha, pois o produto só funcionará onde os princípios ativos atingirem de fato a superfície da folha. 
Devo usar o Óleo de Nim da mesma forma que antes utilizava os inseticidas agrotóxicos? 
Não. Em hipótese alguma. Nada irá substituir o cuidado com o solo que é base de tudo. Nada irá substituir uma nutrição adequada à planta bem como os demais cuidados a serem observados tanto numa produção orgânica como em uma convencional como rotação de culturas, preparo mínimo de solo, correção de acidez de forma adequada (evitando-se o excesso de magnésio e uma boa relação entre Ca:Mg), irrigação adequada, equilíbrio entre os diversos nutrientes, seleção adequada de variedades, adaptação da cultura à região, etc. 
Que outras medidas devo adotar para melhorar o controle de insetos na minha lavoura? 
Hoje é sabido que os insetos só se sentem atraídos por aquelas plantas que sinalizam a eles de alguma forma que precisam ser eliminadas. Essa é a lei inexorável da natureza. Os mais fracos tem e devem ser eliminados. Pesquisas recentes (1, 2, 5) demonstraram que algumas plantas exalam quantidades mínimas de álcool e amônia sinalizando, então, aos insetos a sua agonia e como que “pedindo” para serem eliminadas. Por outro lado, especula-se também que o nível de proteína na planta é fator desencorajador ao ataque de insetos e que os micro nutrientes teriam um papel decisivo na conversão dos amino-ácidos livres à proteínas. Dessa forma, reveste-se de grande importância o papel dos micros nutrientes ou elementos traço na nutrição vegetal. É amplamente reconhecida a importância e o valor dos biofertilizantes na nutrição vegetal, como uma das formas de se conferir ao mesmo uma maior resistência ao ataque de insetos devido a uma boa suplementação nutricional. Entretanto, mesmo o melhor dos biofertilizantes não irá conter todos os elementos traços requeridos para uma nutrição vegetal perfeita, razão pela qual se preconiza a aplicação de fontes fósseis de microelementos como carvões fósseis (xisto, linhito, turfas) bem como de rochas de reconhecido valor nutricional para as plantas com forma de repor ao solo os elementos traços perdidos ao longo de milhares de anos de intemperização dos nossos solos tropicais. A Agro Ecologic vem pesquisando fontes de carvão fóssil bem como jazidas minerais e espera ter essas fontes disponíveis ao produtores a partir de novembro de 2000. 
Literatura Citada 
1. Andersen, A.B. Ph.D. Science in Agriculture.Acres U.S.A. ,376 pp, 2.000. 
2. Callahan, P. S. Ph.D. Paramagnetism. Rediscovering Nature´s Secret Force of Growth Acres U.S.A. , 128 pp, 1995 
3. GTZ. Neem. A Natural Insecticide.”Gewinnung naturlicher Insektizide aus tropischen Pflanzen”, Deutsche Gesellschaft fur Technische Zusammenarbeit (GTZ), 34 pp., Eschborn, sem data. 
4. KONPHALINDO. National Consortium for Nature and Forest Conservation in Indonesia.National Conference on Biopesticides with emphasis on Neem., GTZ – Deutche Gesellschaft fur Technische Zusammenarbeit (GTZ) GmbH, 132 pp., Eschborn, 1998. 
5. Lisle, Harvey. The Enlivened Rock Powders. Acres U.S.A. , 194 pp, 1994. 
6. Norten, Ellen. NEEM. India´s Miraculous Healing Plant. Healing Arts Press., 92 pp., 2.000.
7. Puri, H.S. NEEM. The Divine Tree. . Medicinal and Aromatic Plants – Industrial Profile, Harwood Academic Publishers, 182pp., 1999. 
8. Proceedings of a Seminar held in Dodowa.The Potentials of the Neem Tree in Ghana. GTZ – Deutche Gesellschfat fur Zusammenarbeit (GTZ) GmbH., Division 45, Rural Development, Working Field : “Non-synthetic Pesticides “,129 pp., Eschborn, 1988. 
9. Report of an Ad Hoc Panel of the Board of Science and Technology for International Development. NEEM. A Tree For Solving Global Problems. National Research Council, National Academy Press, Washington, D.C. 139 pp., 1992. 
10. Schmutterer, H & K.R.S. Ascher. Natural Pesticides From The Neem Tree and Other Tropical Plants.,Proceedings of the Third International Neem Conference, Nairobi, Kenia, GTZ – Deutche Gesellschaft fur Technische Zusammenarbeit (GTZ) GmbH., 703 pp.,Eschborn 1987. 
*) Engº Agrº José Luiz M. Garcia
M. Sc. Horticultura – Michigan State University
Consultor em Agricultura Alternativa
Membro da O.T.A ( Organic Trade Associaton )
Membro da I.F.O.A.M
Produtor Orgânico certificado pelo I.B.D.
Associado a A.A.O.
Fonte: [ RAS ]

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