1. FICHA DO BICHO:
Nomes vulgares: Jequitiranabóia,
jequiranabóia, jetiranumbóia, jitiranabóia, jiquitiranabóia, tirambóia,
jaquiranabóia, cobra-voadora, cobra-do-ar (Norte do BR), cobra-de-asa (Norte do
Brasil) e em inglês, Alligator - Headed Lantern Fly.
Nome científico: Fulgora lanternaria (L.,
1758)
Origem do Nome: Descende do
tupi-guarani, onde iakirána = "cigarra" e mbóia = "cobra".
Portanto a definição indígena corresponde a "cobra" e Jequiranabóia,
a pronúncia original indígena.
Ordem: Hemiptera
Subordem: Auchenorryncha
Família: Fulgoridae (Fulgorídeos)
Gênero: Fulgora
Espécie: F.lanternaria ( L. , 1758).
2. COMO É O BICHO?
É um inseto homóptero (parente da
cigarra) e inofensivo que apresenta características que dão origem a crendices.
Possui uma cabeça intumescida (forma de fava de amendoim) e quitinizada
(quitina = proteína resistente) cuja forma vista de lado, lembra a cabeça de um
réptil (cobra ou jacaré), com falsos dentes. Apresenta também um tubérculo
perto da base semelhante a um grande par de olhos. Estes de fato se acham ao
lado e junto deles há um fio sobre um pequeno tubérculo, o que representa sua
antena.
Vista lateral semelhante à cabeça de um
réptil
Suas asas são
amarelo-sujas, pontilhadas de pardo e preto. As asas posteriores possuem
grandes ocelos, lembrando grandes olhos, como nas borboletas-coruja (Caligo
ilineus). Medem ao todo de 6 a 7 cm de comprimento com o dobro de envergadura.
Asas abertas mostrando os ocelos
Raramente ultrapassam os 10 cm de
comprimento. Quando estão de asas fechadas (Fig.3), a aparência na qual são
associados às crendices, se evidência.
Como são parentes das cigarras, sua
reprodução pode ser similar. Isto é, de seus ovos eclodem larvas que passam
todo seu estádio característico sob a terra (fase subterrânea) sugando raízes,
e quando estas já estão prontas para a metamorfose, saem de seus abrigos
subterrâneos e sobem nas vegetações para saírem de sua forma larvária, formando
a "crisálida" e desta, a fase adulta.
3. O QUE O BICHO FAZ?
Gosta muito de voar depois do
crepúsculo, sobre as florestas tropicais. Portanto é um animal de hábitos
noturnos. Nas cidades, é atraída pela luminosidade das ruas, como outros
insetos. Quando pousados, têm o hábito curioso de andar de lado e para trás.
Os inimigos naturais da Fulgora
lanternaria, não são muitos. As aves (garças, corujas etc), mamíferos (primatas
e carnívoros), répteis (serpentes e lagartos) e anfíbios (sapos). Em outros
países os Fulgorídeos são parasitados pelas larvas de vespas e também por
lagartas que vivem de forma parasitária sobre alguns insetos, alimentando-se de
suas secreções. Este hábito concorreu para o desenvolvimento de sistemas de
controle biológico, para combater as espécies pragas.
Alimenta-se do néctar de frutas e seiva
de vegetais, retirados por sucção através de seu apêndice bucal.
4. ONDE O BICHO VIVE?
Esta espécie é muito comum na América do
Sul, em grande parte no território brasileiro. Pode também ser encontrada nos
países da América Central, como na Venezuela, Colômbia e Peru. Vive nas
florestas tropicais.
Existem exemplares de outras famílias,
que podem ser encontradas em outras regiões do mundo, como por exemplo, o caso
da Saccharivora sp. (Antilhas), Saccharosydne sp. (Hawaí), Liburnia furcifera
(Japão) e outras da Malásia e Bornéu. Nestes territórios algumas espécies são
consideradas grandes pragas agrícolas (arroz, milho, cana-de-açúcar etc),
causando grandes danos para a agricultura local. Como é o caso das Antilhas,
considerada praga agrícola ataca a cultura da cana-de-açúcar e no Japão, a
espécie ataca o arroz.
5. CURIOSIDADES DO BICHO:
São considerados os exemplos mais
significativos do folclore brasileiro. Começaremos a relatar sua característica
marcante: a cabeça. A possível bioluminescência é um fato muito marcante. Como
o próprio nome foi batizado na época, "lanternaria" (lanterna). Mas
alguns cientistas dizem que este fenômeno origina-se de bactérias fotogênicas
que se desenvolvem sobre a cabeça dos exemplares. Porém, não possuo uma
confirmação.
Muitas aldeias indígenas e comunidades
próximas o temem, e desta forma acabaram disseminando por muito tempo o
folclore do jequitiranabóia. Segunda a lenda Jequi, caso pouse em uma pessoa ou
sobre um galho, este secará completamente e definhará até a morte. Isto se deve
ao fato de os animais, algumas vezes, serem encontrados em troncos secos,
acreditando-se que ao sugar sua seiva, levou a morte o órgão vegetal. Mas o
leitor não deve se assustar com estas falsas crenças, pois o jequitiranabóia é
um inseto inofensivo e incapaz de "secar" pessoas ou outros animais e
até mesmo vegetais de grande porte. O que ocorre na verdade é que de fato já
foi relatado, são seus hábitos alimentares (suga seivas e o néctar de frutas),
só ocorrendo algum dano, ao vegetal, se o número de insetos for muito grande em
planta já debilitada.
É considerado também um animal
venenosissímo, pelo fato de se assemelhar a uma serpente. No ano de 1833, foi
descrito como sendo: ".. há, porém entre todas mais perigosa e terrível, a
jaquiranambóia". Esta observação por mais improvável que seja, é muito
acreditada ainda pelas pessoas que vivem nas zonas distantes das cidades e
próximas a florestas. Mas também não devemos inferiorizar e ignorar estas, pelo
fato de acreditarem ou não nestas crenças, pois isto faz parte de nossa
múltipla cultura e que não pode ser apagada de nossa história.
O jequitiranabóia
antigamente, era visto com grande freqüência no interior das pequenas cidades,
principalmente as do interior do Estado de São Paulo. Mas atualmente estas
observações são muito difíceis de serem feitas, pois esta e muitas outras
espécies acabaram se confinando em determinadas regiões. Este confinamento é
prova de que o devastamento, a caça predatória (tráfico de animais) e a
poluição estão a cada dia mais intensas, extinguindo a biodiversidade de nossa
tão rica fauna e flora.